O som das cores

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Neil Harbisson viveu uma “infância confusa”. A sua incapacidade de distinguir as cores suscitou vários diagnósticos, desde o daltonismo a dificuldades de aprendizagem, até que, aos 11 anos, se percebeu que Neil padecia de acromatopsia, doença que lhe permite ver o mundo apenas a preto e branco.

Em 2003, altura em que frequentava o Dartington College of Arts, decidiu assistir a uma palestra sobre cibernética que transformou a sua vida. Falava-se de ampliar os sentidos, “perceber por que é que a cor influencia tanto as pessoas” – o que não podia ir mais ao encontro do desejo de Neil Harbisson, de 29 anos.

Do diálogo com o palestrante, Adam Montandon, surgiu a ideia de criar o “eyeborg” – fusão das palavras “eye” (olho) e “cyborg” (organismo cibernético) –, dispositivo electrónico que abriu caminho à metamorfose cromática na vida de Neil Harbisson. O aparelho, agora na versão simplificada, “tem um sensor, atrás da cabeça, que recebe as frequências de luz e transforma-as em frequências sonoras”, explica ao P3. A captação da cor fica a cargo de uma câmara, situada acima da testa e, depois, possibilita que Neil recorra aos “ossos – do crânio – para ouvir as cores”.

 Adaptação à vida de “cyborg”

A adaptação ao “eyeborg” não foi fácil. “Demorei cinco semanas a habituar-me aos sons das cores”, mas, passado algum tempo, “a informação tornou-se percepção e, mais tarde, em sensação”, conta. Assim, acabaram episódios insólitos do quotidiano, como “precisar de testar ambas as torneiras para ver qual corresponde à água quente e à fria”. Sobraram outros, nomeadamente quando ouve música electrónica e  as suas frequências sonoras se misturam com as emitidas pelas cores, daí a vontade de “pôr o ‘eyeborg’ debaixo do couro cabeludo para diferenciar melhor os sons visuais dos sons auditivos.”

 Para Neil, a associação cultural das cores é bem diferente. “O vermelho é a cor mais pacífica e indiferente, porque tem a frequência mais baixa. A cor mais violenta é o violeta, por ter a frequência sonora mais alta”, conta. Além de possibilitar a percepção da cor – e de uma forma mais apurada, pois Neil recebe as três propriedades separadamente: o tom através de uma nota, a luz pelos olhos e a saturação pelo volume dos sons -, o “eyeborg” alargou o seu potencial de expressão artística.

O dispositivo deu a Neil a hipótese de fundir as suas grandes paixões: música e artes plásticas. Dedica-se agora à criação de retratos sonoros, composições em que converte as cores da face em música, e Color Scores, onde transforma as 100 primeiras notas de grandes obras musicais em pinturas. Por isso, “agora não há diferença entre artes e música”.

Fonte: P3  

Para os que querem conhecer um pouco mais da história do nosso “Cyborg”, separei o vídeo da TED Global com a talk I Listen to Color no qual Neil Harbisson explicou um pouco da sua história e como as coisas aconteceram na sua vida.